Portugal - Setubal - Montijo
Bio
Mestre em Educação pela MUST University (EUA), especializado em tecnologias emergentes. Possui grau de licenciado em artes visuais pela Universidade de Lisboa (Portugal), conferido pela Ítalo-Brasileiro (Brasil). Mestrando em Ensino de Artes Visuais no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário na lusófona de Lisboa. Curso de formação em Artes Plásticas pela Escola Panamericana de Artes de São Paulo e Bacharelado em Gestão de Empresa pela ESPM. Autor dos livros “Desenho Criativo para Todos”, “A Fonte da Essência” e “traços da vida: crônicas para desenhar o agora”. Certificado como formador em Portugal, possui experiência internacional como arte educador no Museu de Arte Moderna (MAM) e na Bienal de São Paulo. Atuou como docente de Artes Plásticas na Escola Panamericana de Artes. Com formação heterodoxa, o seu pensamento pictórico inclui a utilização de técnicas mistas sobre tela, madeira, painéis e murais, desde 2011. Expos suas obras em diversas galerias, museus e instituições brasileiras e internacionais, dentre elas a Spitia Gallery em Bryckell - Miami. Curso de Teatro Profissional pelo Teatro-Escola Célia Helena. Neste momento é professor de educação visual e expressão plástica na escola básica dom Manuel 1 em Alcochete para turmas do 3° ciclo. Agitador cultural do movimento artístico da hipermodernidade “o escurismo”
Qual a importância da arte em sua vida?
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Como você acha que a Arte pode contribuir no fortalecimento da Cultura de Paz?
A Arte pode contribuir profundamente para o fortalecimento da Cultura de Paz porque ela tem o poder de tocar o que há de mais humano em nós: a sensibilidade, a empatia e a imaginação. Diferente dos discursos normativos ou políticos, a Arte comunica por outras vias — simbólicas, emocionais, poéticas — e, por isso mesmo, ela é capaz de romper barreiras culturais, religiosas, ideológicas e sociais.
Ao expressar a dor, a beleza, a diversidade e o desejo de convivência, a Arte cria pontes entre diferentes mundos. Pinturas, músicas, danças, poemas, filmes e performances têm o potencial de revelar realidades invisibilizadas, despertar a escuta do outro e cultivar um sentimento coletivo de pertencimento e cuidado. Ela ensina que o conflito pode ser elaborado — não apenas evitado ou reprimido — e que há potência na vulnerabilidade.
A Arte também inspira ações não violentas e práticas colaborativas. Quando cultivada em espaços educativos, comunitários ou urbanos, ela incentiva a participação, o diálogo e a liberdade de expressão, pilares fundamentais da paz duradoura.
Assim, a Arte não impõe a paz: ela a semeia. E esse gesto, por mais sutil que pareça, pode transformar profundamente o tecido simbólico de uma sociedade.
Entre as questões políticas, sociais, humanitárias e ambientais, qual delas mais te preocupa no momento?
Com a casa das pessoas. A poética das “Conchas de Maria”, como pintura e como símbolo, pode se entrelaçar de forma profundamente sensível com a ideia da casa interior das pessoas — especialmente neste momento em que o mundo pede mais escuta, reconexão e silêncio.
A concha, como forma, é abrigo.
Curva-se sobre si mesma para proteger o que é delicado, misterioso, essencial.
É casa portátil, é corpo que escuta o mar mesmo longe dele.
Nas “Conchas de Maria”, essa imagem torna-se pintura e rezo visual.
Cada pincelada guarda o eco do útero, do ventre do mundo, do murmúrio primordial.
É como se a própria Maria, figura materna arquetípica, oferecesse um gesto de cuidado — uma concha para cada um recolher-se e escutar a si.
Hoje, a casa das pessoas não é mais só um espaço físico.
É também um refúgio psíquico, um lugar simbólico de reconstrução do que foi fragmentado pela pressa, pelo excesso, pelo ruído.
As pinturas-conchas entram aí como chaves poéticas, como portais sutis.
Elas convidam ao recolhimento, à contemplação, ao gesto de colocar uma concha no ouvido e ouvir:
não o mundo de fora, mas o mundo que pulsa dentro.
Neste momento, em que muitos se sentem desenraizados, ansiosos, deslocados, a imagem da concha-casa nos lembra que é possível fazer morada naquilo que é invisível.
A arte, como essa concha, não resolve — mas acolhe.
Ela nos devolve ao ouvido, ao silêncio que gera, ao lar simbólico que todos carregamos, ainda que esquecidos.
Assim, a poética das Conchas de Maria é mais que estética:
é uma pedagogia do escutar.
É um convite a transformar a casa em altar e a alma em abrigo.
Na sua opinião, como a Arte pode contribuir na elevação da consciência das pessoas em relação às questões mencionadas acima?
A Arte pode contribuir significativamente para a elevação da consciência das pessoas porque ela não fala apenas à razão, mas também ao sentir, ao imaginar e ao intuir. Quando nos deparamos com uma obra de arte — seja uma pintura, um poema, uma dança ou uma instalação — somos convidados a ver o mundo por outro ângulo, a nos deslocar da nossa zona de conforto e, muitas vezes, a nos reconhecer no outro.
Essa experiência estética pode gerar uma transformação interior silenciosa, mas profunda.
Ela nos ajuda a perceber nuances de questões sociais, ambientais, espirituais e afetivas que talvez passassem despercebidas no cotidiano. A Arte toca em camadas invisíveis da consciência, abrindo espaço para reflexão, empatia e ação.
Além disso, a Arte é um meio potente de denúncia e cura. Ela pode tanto revelar injustiças quanto propor futuros possíveis, despertando o senso de responsabilidade coletiva e a capacidade de imaginar novas formas de convivência.
Por isso, em tempos de crise, dispersão ou desumanização, a Arte não é luxo, é alimento — um instrumento vital para reacender a lucidez, a escuta e a consciência do que realmente importa.