Milena Julianno

Brasil - Rio Grande do Sul - Porto Alegre

Milena Julianno

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Continuun II

Continuun II

Continuun IV

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Revoadas

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Bio

Artista visual, com formação certificada pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque – MOMA, em Artes e Atividades Interativas e com uma paixão pela lepidopterologia, sua prática artística resulta de uma pesquisa que explora contrastes como vida e morte, movimento e natividade, prazer e dor. Transforma as páginas de livros em obras que evocam a beleza efêmera das borboletas, integrando elementos de arte biológica.
Suas criações não apenas celebram a perfeição da natureza, mas também buscam promover a conscientização sobre a importância da preservação das espécies e seus habitats. Premiada com a Silver Medal Award na Luxembourg Art Week (2020) e com a Menção Honrosa no Museu das Américas em Dubai (2021); Exposição individual Borboleteando, na galeria do foro Central II, Porto Alegre (2023); artista selecionada no Edital Projeto Emergencial - Espaço Força e Luz / EFL Cultura-RS (2024)

Qual a importância da arte em sua vida?

A arte é o eixo da minha existência. Ela não é apenas um meio de expressão, mas uma forma de respirar, de resistir e de transformar o invisível em presença. Através da arte, elaboro o tempo, a memória e os afetos, dou forma ao que é efêmero e sentido ao que é caótico.
Minha prática artística nasce de uma escuta profunda da vida, onde o gesto criativo se torna ritual, ponte, cura. A arte me permite tocar o outro sem palavras, atravessar fronteiras sem passaporte, costurar feridas sem bisturi. Ela é, acima de tudo, um modo de oferecer beleza e consciência ao mundo, mesmo (e especialmente) quando tudo parece desabar.

Como você acha que a Arte pode contribuir no fortalecimento da Cultura de Paz?

A arte contribui para a Cultura de Paz quando recusa a indiferença. Como bem apontou Hannah Arendt, “o mal não é radical, ele é banal” nasce da omissão, da falta de pensamento, da repetição cega. A arte, ao contrário, é o exercício radical do pensamento sensível. Ela é presença, fricção, memória viva. Não acredito na paz como silêncio ou apatia. A verdadeira paz exige enfrentamento crítico, abertura à diferença, responsabilidade coletiva. E a arte pode tensionar, provocar, incomodar e ainda assim abrir caminhos de empatia, encantamento e reconciliação.
Criar, para mim, é um gesto ético e político. É dizer: “eu vejo, eu sinto, eu não ignoro.” A arte, quando comprometida com o mundo, é capaz de restaurar o sensível em tempos de brutalidade. É aí que ela se torna ferramenta de transformação e de paz real, uma paz que não silencia, mas escuta profundamente.

Entre as questões políticas, sociais, humanitárias e ambientais, qual delas mais te preocupa no momento?

O que mais me preocupa hoje é a normalização da ignorância, a crescente indiferença diante do conhecimento, da leitura, do pensamento crítico. Vivemos uma era de excesso de dados e escassez de sentido. A informação circula em velocidade, mas sem profundidade; e com isso, esvazia-se o discernimento, a escuta, a empatia.
A falta de leitura e de educação intelectual gera um terreno fértil para o autoritarismo, o negacionismo e a desinformação. Sem o hábito da reflexão, o olhar se torna raso, a palavra se torna ruído, e o outro deixa de ser reconhecido como humano.
Essa crise atravessa todas as esferas: políticas, sociais, ambientais e humanitárias. Porque sem pensamento, não há escolha consciente , há apenas repetição.
Minha prática artística busca, justamente, provocar pausas, criar fendas no automatismo e reacender o olhar sensível. Acredito que a arte, a leitura e o pensamento caminham juntos como instrumentos de paz, lucidez e liberdade.

Na sua opinião, como a Arte pode contribuir na elevação da consciência das pessoas em relação às questões mencionadas acima?

Acredito que a arte tem o poder de interromper o automatismo, de criar um espaço de pausa, de presença, onde algo adormecido pode despertar. Ela toca onde o discurso lógico não alcança. E é justamente nesse espaço sensível que a consciência começa a se expandir.
Diante da falta de leitura, da banalização do pensamento e da crise ética que vivemos, a arte pode reacender o olhar. Ela não dá respostas prontas, mas instiga perguntas. Não impõe, mas convida à reflexão.
Com um gesto, uma imagem, uma palavra bem colocada, a arte pode revelar violências invisíveis, desestabilizar certezas frágeis, devolver humanidade onde só havia ruído.
Para mim, criar é lançar sementes de pensamento. É oferecer ao outro um espelho simbólico, onde ele possa se ver, e talvez, se transformar.