Brasil - Rio de janeiro - Angra dos Reis
Bio
Sou artista visual e atuo profissionalmente desde a década de 1990. Nascida e criada em Angra dos Reis, cidade onde vivo até hoje, iniciei minha trajetória retratando as belezas naturais da minha terra natal. Com o tempo, senti a necessidade de explorar novas linguagens e técnicas, o que me levou a mergulhar em uma pesquisa voltada para o uso de materiais inorgânicos descartados no meio ambiente.
Sempre busquei aprimoramento técnico e novas formas de expressão, participando de cursos e oficinas com artistas experientes. Essa busca constante me levou a desenvolver uma técnica mista própria, marcada por traços leves, figuras expressivas e cores intensas — uma linguagem pictórica autêntica e facilmente reconhecível.
Preocupada com o aumento do lixo e os impactos ambientais, passei a incorporar em minhas obras materiais como placas de eucatex reaproveitadas (vindas muitas vezes de fundos de armários e gavetas), gesso acrílico, cola, tinta e outros elementos recicláveis. Um dos marcos mais significativos dessa fase é o uso criativo de tiras de garrafas PET, que agregam destaque visual e beleza às composições. Muitos se surpreendem ao descobrir que o material principal das obras é plástico descartado.
Durante a pandemia, mesmo com os desafios impostos, mantive minha produção ativa e me dediquei a participar de editais públicos — sendo contemplada em todos os que me inscrevi. Um dos projetos mais especiais dessa fase foi a primeira projeção mapeada com obras autorais no Brasil, em que abordei a lenda da padroeira de Angra dos Reis. A projeção aconteceu na centenária Igreja Matriz da cidade, onde a imagem da santa está abrigada. A partir desse trabalho, nasceu o documentário “A Lenda da Padroeira”, disponível no YouTube, que registra meu processo criativo e a história que inspirou a obra.
Acredito que nem tudo o que se joga fora é lixo, e que a arte tem um papel profundamente transformador, educador, sensível e crítico. Meu trabalho é movido por um compromisso com a sustentabilidade e a valorização da cultura local, sempre buscando unir inovação estética, consciência ambiental e reflexão social.
Qual a importância da arte em sua vida?
A arte, para mim, vai além de uma simples atividade estética ou profissional. Ela é minha essência, meu refúgio e minha voz. Ao longo da minha trajetória artística, tenho utilizado a arte como meio de expressão, resistência e transformação — tanto pessoal quanto social. Dentro desse contexto, entrelaço minha arte com minha identidade, meus sentimentos e minha existência.
Criar meus trabalhos é um modo de externar pensamentos e sentimentos que dificilmente seriam expressos por palavras. A pintura torna-se, assim, um canal de autoconhecimento. Além disso, a arte dá sentido e propósito à trajetória da minha vida. Ela não representa apenas uma profissão, mas um verdadeiro chamado. É por meio da criação que encontro minha identidade, experimento a liberdade de ser quem sou e compartilho minha visão de mundo. A arte me transforma, então, em uma ponte entre o eu e o outro, permitindo comunicação, empatia e troca cultural.
É também através da arte que me posiciono criticamente por meio das minhas obras, abordando temas como desigualdade, racismo, violência e meio ambiente. Nesse contexto, a arte assume um papel político, sendo utilizada como ferramenta de conscientização e transformação — reforçando meu valor individual e também o coletivo.
Como você acha que a Arte pode contribuir no fortalecimento da Cultura de Paz?
Vivemos tempos turbulentos — marcados por guerras, colapsos ambientais, injustiças estruturais e o agravamento das desigualdades sociais que empurram a sociedade para um estado de caos. Diante disso, a arte se torna ainda mais necessária — não apenas como expressão, mas como resistência.
A história nos mostra que a arte sempre esteve presente, tanto em momentos de celebração quanto nos períodos de conflito e vergonha. No entanto, acredito em uma arte pela paz: uma arte que denuncia, mas também constrói pontes. Uma arte que acolhe, educa e inspira ação coletiva. Ao lançar luz sobre as dores do presente, a arte também pode abrir caminhos para um futuro mais justo, solidário e pacífico.
Entre as questões políticas, sociais, humanitárias e ambientais, qual delas mais te preocupa no momento?
Meio ambiente.
Na sua opinião, como a Arte pode contribuir na elevação da consciência das pessoas em relação às questões mencionadas acima?
Sem um meio ambiente saudável — com florestas preservadas, água potável, rios e mares despoluídos — torna-se impossível garantir uma boa qualidade de vida. A escassez desses recursos pode gerar disputas territoriais e, como nos mostra a história, provocar guerras entre as nações, colocando em risco a sobrevivência dos seres vivos e ameaçando a própria existência da vida no planeta.
Diante desse cenário, a arte, como linguagem universal, revela-se uma poderosa “arma” no processo de sensibilização e transformação social. Em especial, a arte visual desempenha um papel fundamental, pois tem o poder de impactar diretamente o olhar e a consciência das pessoas.